Quando marcamos a viagem para a Jordânia sabíamos que Petra seria uma parada obrigatória no nosso roteiro. Logo comecei a pesquisar quais seriam as formas de organizar uma visita à área que, desde 1985, é Patrimônio Mundial da UNESCO, e que em 2014 foi eleita uma das novas sete maravilhas do mundo. A ideia era decidir se visitaríamos Petra de forma independente ou fazendo parte de um tour. Primeiro, estabelecemos que passaríamos pelo menos uma noite em Wadi Musa, vila adjacente ao sítio arqueológico. E, de preferência, perto da entrada do Visitor Center, para assim otimizar o tempo da visita.
Trilha completa em Petra: Vá independente da Back Entrance ao Monastério e Tesouro |
Petra: As fotos no insta ficam top, mas é um rolê pra chegar lá |
Caminhando pelo Siq, um desfiladeiro estreito que serpenteia por cerca de 1km e chega no Tesouro |
Onde se hospedar em Wadi Musa para visitar Petra
Levando em consideração que Wadi Musa (e toda a região) é bem montanhosa, é preciso ser criterioso ao reservar uma hospedagem por lá, afinal de contas é bem possível que você vá caminhar bastante no passeio em si e, por isso, não seria interessante gastar muita energia só para chegar ao ponto inicial da visita. Nós nos hospedamos no La Maison Hotel Petra, que fica a menos de 500 metros do Visitor Center de Petra. O bônus é que esse hotel também fica a 300 metros da estação de ônibus de Wadi Musa, de onde partiria nosso ônibus para Amã à tarde. A opção de hospedagem mais bem localizada para visitar Petra é o Mövenpick Resort Petra, que fica na cara do gol, localização extremamente conveniente. Hospedagem reservada, decidimos que visitaríamos Petra de forma independente, sem fazer parte de grupo, para fazer o passeio no nosso ritmo.
Objetivamente, qual é o esforço para visitar Petra?
Sendo bem sincera, sempre vi imagens de Petra na internet, mas sempre foram dos mesmos lugares: do cartão-postal, o Treasury e da fenda aberta entre os paredões após um terremoto, o Siq. E, dependendo da disponibilidade de tempo e energia, uma visita à Petra pode simplesmente parar por aí mesmo. Mas nas pesquisas eu vi que existia o Monastério (Ad Deir), que as pessoas falavam que ir à Petra e não visitar o esse lugar era como não ter ido. E eu, que odeio esse tipo de imposição, me peguei pesquisando como fazer para visitar o “imperdível” Monastério.
Descobri que só para chegar até o Tesouro (Al Khazneh), o mais famoso dos pontos de Petra, seria uma caminhada de 4,5km. De acordo com o Google Maps, esse trecho nessa direção tem cerca de 170m de descida e 80m de subida. Portanto, a visita básica à Petra, envolve uma caminhada de 9km. Dependendo das condições de tempo no dia da sua visita, a alta temperatura e a baixíssima umidade relativa do ar podem aumentar a percepção de dificuldade do passeio.
Parte da trilha que leva até o Ad Deir/Monastério |
Já para os visitantes que desejam esticar a caminhada até o Ad Deir (ou Monastério), o buraco é mais embaixo. Ou melhor, mais em cima. É que o Monastério fica em um platô em cima de uma das inúmeras montanhas da região e, seguindo adiante a partir do Tesouro, o trecho tem adicionais 3,5 km e requer o esforço de subir 230m e descer 120m, algo como 76 andares e 40 andares, respectivamente.
Quem decide fazer o percurso até o Monastério por esta rota, precisa, ao fim da sua visita, retornar pelo mesmo caminho percorrendo duas vezes o mesmo trecho, que, se somados, têm 16km e equivalem a subir 198 andares e também descer 198 andares. A partir dessa conta rápida eu simplesmente desisti de ir até o Monastério. Não pela distância, uma vez que já percorri trajetos mais longos, mas pelo esforço de subidas e descidas. E em meio ao meu processo de desistência, que descobri existir uma “forma inteligente de visitar Petra incluindo o Monastério”.
A trilha da Back Entrance é puxada, mas tem uma vista deslumbrante |
A alternativa para evitar repetir a mesma rota até o Monastério é usando uma trilha chamada de ‘Entrada dos Fundos de Petra’ (Petra's Back Entrance). E foi dessa forma que decidimos fazer a nossa visita. SocorroDeus.mp3
Como visitar Petra pela Entrada dos Fundos (ou Back Entrance)
Para essa visita, a cidade organiza o transporte até o inicio da trilha (subida da montanha) que consiste em um trecho de microônibus até “Little Petra”, que é gratuito, e um trecho de caminhonete até o pé da montanha que é pago e custou JOD 5 na ocasião da nossa visita. Vi gente dispensando esse último modal porque era pago, mas vá por mim, vale a pena pagar porque esse trajeto até o início da trilha não tem nada de atrativo para ser feito a pé.
Com o Jordan Pass basta apresentar na bilheteria e trocar pelo ticket de entrada em Petra |
As vans que levam até "Little Petra" são gratuitas |
Little Petra também tem edificações esculpidas em paredes de arenito |
Desse ponto até o ‘Monastério’, a trilha consiste em uma constante subida com caminho de areia e pedra e degraus irregulares, de cerca de 3 km e o esforço de subir 160m (ou 53 andares). Para aplacar o esforço, o visual do lugar é deslumbrante e muito particular, montanhas, desfiladeiros, horizonte bem aberto, céu limpo. Começamos cedo, às 7 da manhã em ponto estávamos no Visitor Center apresentando nosso Jordan Pass e pegamos o segundo microônibus, que saiu às 7:15, portanto as temperaturas ainda estavam amenas.
Em Little Petra nós compramos o ticket para usar o transporte até o início da Back Entrance |
A bordo do traslado para o começo da trilha Back Entrance |
Alguns corajosos não pagam pelo transportem e já começam a trilha daí. Poupe sua energia: não vale a pena. |
A caminhonete que faz o shuttle entre Little Petra e a Back Entrance |
No afã de parecer atléticos, muitos turistas começam a trilha a pleno vapor para dali a minutos se verem sem ar para continuar. A baixa umidade afeta o desempenho de todos aqui. Para prestar “socorro” aos desavisados, os locais aparecem oferecendo “resgate” com burros e argumentando que a pessoa não vai conseguir concluir a subida sozinha. Durante todo o trajeto em Petra, não só nesta trilha, são oferecidos burros para as subidas e/ou descidas e camelos ou cavalos nas áreas planas. Exploração animal desenfreada num ponto turístico de relevância mundial. E pior, sempre tinha alguém fazendo uso. A julgar pela expressão nos rostos de alguns turistas, estar no lombo de um animal parecia muito mais exaustivo do que a caminhada em si. Como sempre deixo claro, por pior que seja o caminho, a gente nunca faz uso desses “serviços”. Somos totalmente contra a exploração animal pela indústria do turismo.
Turistas que não aguentam (ou não querem) fazer a trilha a pé seguem em burros |
Nas áreas planas os camelos e cavalos entram em cena e também viram opção de locomoção |
Voltando à trilha, para concluir essa primeira subida até o Monastério, levamos pouco mais de uma hora e meia, com duas pausas pra sentar na sombra e lanchar frutas que havíamos levado na mochila. A quantidade de turistas aqui é limitada ao número de pessoas que chegam de caminhonete e aos poucos que vêm a pé. A dica que todos dão é começar o mais cedo possível para chegar ao Monastério com menos turistas, mas, sendo você mesmo um turista, essa dica perde um pouco o sentido. Como falei, ir mais cedo é importante porque a temperatura é mais amena pra começar a trilha.
Início da trilha para o Monastério pela Back Entrance. Essa é a única placa de sinalização |
Não é uma trilha fácil, vá com tempo para fazer o percurso no estilo devagar e sempre |
900 degraus: a descida do Monastério
Nessa área do Monastério, tem um restaurante/café onde é possível comprar lanches, frutas e bebidas, além de ter wi-fi, mas a gente tava o tempo todo conectado com nosso eSIM. Inclusive achei de extrema importância estar com conexão constante no celular, caso algum imprevisto acontecesse nessa primeira parte da trilha, quando o fluxo de pessoas é bem menor. Após o tempo de contemplação no Monastério iniciamos a descida até a área central de Petra, chamada de Basin – onde fica o ‘Grande Templo’ e também banheiros e outros restaurantes.
Um dos pontos onde é possível parar, sentar, descansar e ter uma vista privilegiada |
O edifício do Monastério é bem maior que o do Tesouro, mas está em pior estado de conservação |
A descida dos 900 degraus exige joelhos firmes |
Todos os relatos da Back entrance a descrevem como fácil e que pode ser feita por qualquer um, mas essa informação não é precisa. Todo o trajeto entre a Back Entrance e o Basin é muito irregular, com pontos inseguros, e de subidas e descidas intensas, o que dificulta bastante e pode até impossibilitar a visita de que tem mobilidade reduzida à essa área de Petra. No Basin paramos mais uma vez para comer melancia, respirar e usar o banheiro. Como o ar é desértico, você desidrata muito rápido. Mesmo no meio da trilha, há locais vendendo bebidas e snacks, além de um burrinho estacionado pra emergências. A descida dos famosos “900“ degraus até o Basin levou uma hora (e quase leva também a saúde dos joelhos). Quem disse que pra baixo todo santo ajuda?
Tem muito o que se ver em Petra, o parque é grande e pode-se passar dias visitando |
Os vestígios do anfiteatro no pé da montanha |
Pela proximidade da entrada e acessibilidade, o Tesouro é onde a maioria dos turistas fica concentrada |
A partir daqui o caminho até o Tesouro (e depois até o Visitor Center) é de subida leve e a estrutura vai melhorando consideravelmente, já que essa é a área por onde a maioria dos visitantes circula.
Quanto custa visitar Petra?
O preço do ingresso para visitação em Petra custa a partir de JOD 50 (USD 70 ou R$ 350) para um dia, e, por este valor, a estrutura e a sinalização poderiam ser muito melhores. Inúmeros turistas perguntavam ao longo da trilha “quanto ainda faltava" pra chegar ao Monastério, ou se “era difícil” e isso pode ser esclarecido com sinalização, que em toda a área é deficiente e/ou mal cuidada – principalmente no caminho entre o Monastério e o Tesouro. Na área do Basin, vários desvios podem ser feitos para se aproximar de outras construções menos famosas mas não menos importantes, como o que restou do Grande Templo e o Anfiteatro, mas é preciso gerenciar bem o tempo e a energia e não se deixar atrair pelas belezas do lugar (são muitas… é muita beleza mesmo).
Durante toda a trilha, desde o Monastério até o Tesouro, tem bancas vendendo souvenir de Petra |
Entre o Basin e o Tesouro, levamos cerca de uma hora. A longa e desafiadora trilha chega no seu ápice com a visão dessa edificação, esculpida na rocha, que foi construída para ser uma tumba e em árabe se chama Al-Khazneh, “O Tesouro”. E é bem bonito. 10/10. A famosa foto do Instagram, com o Tesouro visto do alto, é oferecida pelos locais o tempo todo. Você nota os turistas tentando encontrar uma forma de subir, mas infelizmente não há um local oficial e sinalizado pelo parque com um caminho para ter essa vista. As pessoas que sobem se sujeitam ao risco de se machucar e ainda são assediadas a remunerar quem os levou ou os recebeu no topo. As fotos de Petra ficam incríveis, mas é tudo muito caótico nessa visita.
Se quiser comprar uma lembrancinha de viagem, se prepare para negociar |
O último trecho da trilha foi sofrido. Com o sol a pino, 35°C de temperatura, nenhuma sombra à vista e nenhuma “recompensa” no caminho, essa hora de subida não foi prazerosa e quando chegamos ao Visitor Center nós estávamos exaustos. Confesso que chorei de cansaço, muito porque esse é o tipo de trilha que não dá pra desistir. Não dá pra falar: cansei, vou embora. Não tem como ir embora. Você tem que terminar.
Enfim, vale a pensa visitar Petra?
Claro que vale. E essa é só uma forma de visitar Petra. Para quem tem dificuldade de locomoção (ou simplesmente não quer fazer a caminhada até o Tesouro) é possível pegar um carrinho elétrico por JOD 15 o trecho por pessoa, JOD 25 ida e volta. Também não acho que seja mandatório visitar o Monastério, não. Na verdade, nada é mandatório. Mas se eu fosse fazer de novo essa trilha (não vou 😂), eu pegaria o carrinho elétrico voltando até o Visitor Center após visitar o Treasury.
Por fim, acho que pelo valor que cada turista paga para visitar o sítio arqueológico, a organização que vemos no Visitor Center e no caminho até o Tesouro, deveria se estender até o Monastério, uma vez que ele aparece como uma opção de visitação também.
Nosso passeio em números:
✔ Duração: chegamos às 7:00 ao Visitor Center pra pegar o ônibus para Little Petra e encerramos o passeio no mesmo lugar às 15:00 – 8 horas no total.
✔ Distância: o percurso em si tem cerca de 11km mas somando os diversos desvios que você acaba fazendo, acumulamos 15km no GPS. Em termos de subidas e descidas, nesse sentido entre a Back Entrance e Visitor Center, estimado de 440m subindo, 300m descendo, o equivalente a 146 andares subindo, 100 andares descendo.
✔ Custo: para quem está pernoitando em Wadi Musa a entrada na bilheteria custa JOD 50 como já mencionei, mas nós adquirimos o Jordan Pass online, que dá passe livre em Petra e outras atrações turísticas da Jordânia.
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