Conversando com um casal de colegas sobre o Japão nos foi compartilhado o receio de não se dar com a culinária local. Se tem a ideia de que na Terra do Sol Nascente se come basicamente sushi e frutos do mar. E, como grande entusiasta do país, não poderia deixá-los voltar pra casa com essa percepção. Afinal de contas comer, sem sombra de dúvidas, é uma atividade que ocupa uma boa parte do roteiro de uma viagem ao Japão, pelo menos foi assim na minha viagem — e espero que, quando essa hora chegar, seja na deles e na sua também.
Saia de casa, portanto, preparado para mergulhar num mundo de sabores, aromas, texturas e cores com que, por vezes, não estamos tão familiarizados. Mas sendo um turista com paladar receptivo e curioso, garanto que você será surpreendido positivamente com as descobertas gastronômicas do Japão.
Se por acaso você já está programando sua viagem e não sabe nem por onde começar a escolher o que e onde comer por lá, não se preocupe, estou aqui para diminuir essa angústia e nortear um pouco esse planejamento a partir das minhas próprias experiências nesse país que tem uma cena gastronômica empolgante e que vai muito além do famoso sushi.
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O amado sushi, que aqui no ocidente tratamos de colocar maionese, cream cheese e o que mais nos desse na telha — virou o ícone e por muito tempo o único representante da culinária japonesa pra gente. Aliás, nada contra, alguns são deliciosos e no Japão também me deparei com sushis não tão ortodoxos, digamos.
De uns tempos para cá o nosso conhecimento acerca da gastronomia do Japão foi aumentando ao passo que a cozinha quente japonesa também foi se popularizando ainda mais no ocidente. Quem nunca ouviu falar de lámen? Ou no chá que virou mania, o matchá? E na crocância do tempurá? Os bares gastronômicos, estilo izakaya, geralmente frequentados para uma bebida pós-expediente acompanhada de petiscos deliciosos, também começaram a pipocar no Brasil.
E, apesar de a gente achar que manja de cozinha japonesa, só estando lá para saber que a gente só arranha a superfície dessa história. Uma curiosidade que me surpreendeu é que os restaurantes no Japão geralmente são dedicados somente àquela especialidade, ou seja, se eles vendem sushi, eles só venderão sushi, ou só okonomiyaki, só lámen e assim por diante. Por isso, não espere ver de tudo um pouco no cardápio como vemos em restaurantes no Brasil ou em outros lugares do mundo. Logo, no Japão, é preciso saber de antemão o que se quer comer.
E o que você poderá querer comer por lá? Vem comigo que eu te mostro.
🍜 Lámen
Meu prato japonês preferido — e um dos mais populares no país — é composto por macarrão coberto por um caldo rico em perfume e sabor, uma espécie de sopa, que pode ser feita com várias bases, sendo as principais: shoyu, shio (sal), miso (missô), tonkotsu (osso de porco). O lámen vem servido em uma grande tigela guarnecido com chasu (fatias de porco), tamago (ovo cozido), alga, milho, cebolinha, broto de feijão… Enfim, é um prato versátil demais e cada região do país tem um estilo próprio.
Normalmente os restaurantes que vendem lámen operam tudo por meio de máquinas, então você apenas se senta no balcão e eles te passam uma comanda na qual você pode personalizar sua escolha, optando, por exemplo, pela intensidade do caldo, o ponto da massa, se quer ou não porco, ovo ou cebolinha.
Basta preencher a comanda e devolver ao atendente com o ticket da compra e uma belíssima tigela de lámen chegará à sua frente. Ah, é supercomum fazer barulho ao comer esse prato, sorvendo bem o caldo, e também não é falta de educação beber a sopa segurando a tigela com as duas mãos. Dizem, inclusive, que quanto mais barulho se faz ao comê-lo, mais gostoso é o lámen. Ainda na área dos macarrões, vale dar uma chance ao Soba e ao Udon.
🔖 Dica da Rapha: O lámen mais gostoso que eu provei no Japão foi o da rede Ichiran, com várias filiais espalhadas pelo país. Também comi bons lámens no Afuri e no Ippudo
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🍛 Karê (ou Curry Japonês)
Um prato que é símbolo de comfort food japonesa é uma ótima pedida para quem quer dar um tempo de sabores muito fortes. Não que esse não seja marcante, mas essa comida de mãe, o Kare Raisu, se assemelha muito com a nossa cozinha. Ele consiste em um curry saboroso e aveludado, geralmente com frango, com batata, cebola e cenoura, guarnecido com arroz branco. Na rede CoCo Ichibanya você encontra as mais variadas configurações do prato, como esse da foto, servido com um corte de porco empanado e frito, o tonkatsu.
🍲 Okonomiyaki
O okonomiyaki foi uma das grandes surpresas gastronômicas do Japão. Toda feira de rua que se preze tem uma barraquinha fazendo a iguaria fresquinha ali na sua frente. A tradução literal da palavra é a seguinte: okonomi quer dizer “o que quiser” e yaki “na chapa, na grelha”. O prato consiste em uma cama de repolho fatiado fino, recheada com porco, camarão, ovos, enfim, de tudo um pouco. Tudo é unido por uma massa, tipo panqueca, grelhado dos dois lados, besuntado com molho denso e maionese.
Mais uma vez, cada estado tem o seu estilo próprio de fazer o prato, sendo os de Osaka e Hiroshima os mais famosos do Japão. Conheci o de Hiroshima por indicação do sushiman que nos atendeu em Quioto, que, ao saber que a cidade japonesa estava no nosso roteiro, disse em alto e bom som: — Hiroshima? Okonomiyaki!
Visitamos a Ichi Okonomiyaki, uma casa especializada no prato, bem simples, mas com um pessoal muito atencioso e esforçado para fazer a comunicação funcionar. Ao nosso redor, as paredes guardavam garrafas de sake e mangás. Sem dúvidas, uma atmosfera bem descontraída e jovem. Bom para equilibrar o peso de uma visita a Hiroshima.
Alguns restaurantes deixam o preparo do okonomiyaki por conta do freguês, levando à mesa apenas a mistura pronta e permitindo que os visitantes usem as chapas das mesas para grelhá-la. Outros, como o que visitamos, trazem o okonomiyaki fumegando, gostoso, pronto apenas para degustarmos. Uma delícia.
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Guioza
Inventado na China e levado ao Japão por soldados japoneses e ajustado ao paladar do país, o guioza virou um prato extremamente popular na Terra do Sol Nascente. O acepipe é um tipo de pastel pequeno, feito de massa fina de farinha, recheado com carne de porco moída, repolho fatiado, cebolinha, gengibre e alho.
Com o passar do tempo, novos recheios (camarão, cogumelos...) foram sendo desenvolvidos e apreciados, mas o tradicional é o meu favorito. Quanto ao preparo, são três os tipos: assado na frigideira (Yaki Guioza), assado no vapor (Sui Guioza) e frito em imersão (Age Guioza). O assado na frigideira é um clássico, o guioza fica com um dourado profundo na parte de baixo e em cima a massa fica cozida, porém macia, bem parecida com a textura da versão no vapor.
No Japão encontra-se o prato com facilidade em vários lugares, mas há espaços dedicados ao bolinho. Essas casas são simples e normalmente oferecem dois tipos de guioza, um punhado de acompanhamentos (arroz, brotos de feijão, sopa, nada muito elaborado) e cerveja. Sem dúvida, esses petiscos são uma opção de refeição barata e cheia de sabor!
🔖 Dica da Rapha: Comi guiozas deliciosos em Tóquio no autêntico Gyoza Lou/ Gyozaro, em Harajuku. É bom e barato, dependendo da hora tem fila na porta.
🍚 Omurice
Omu é abreviação para omelete e rice significa arroz em inglês, e o prato é exatamente o que o nome quer dizer: uma omelete recheada de arroz. Normalmente contém pequenos pedaços de frango e é coberto por uma fina camada de omelete úmida por dentro e tenra por fora; em cima de tudo, um molho que varia de acordo com a proposta de quem está cozinhando; É um prato surpreendente, esse eu até arrisco a fazer em casa.
🔖 Dica da Rapha: Provei Omurice no restaurante enquanto esperava o passeio de barco para avistar o Monte Fuji na região turística de Hakone.
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