Por Larissa D'Almeida
Os numerosos dias de sol em Malta, geralmente, levam os visitantes para um único destino: a praia. No entanto, os que se permitem seduzir por outros aspectos da ilha podem acabar numa cidade do interior, com paisagem bucólica, comendo os melhores morangos da sua vida no meio de uma festa inteirinha dedicada à fruta: a "Festa Frawli". Mas que raio é "frawli", você deve estar se perguntando. Frawli é a palavra maltesa para morango, e a fruta decora todas as mesas, de todas as barraquinhas espalhadas pela praça e ao redor da paróquia principal da cidade, que recebe o festival anual da região de Mgarr, aldeia agrícola considerada uma grande produtora de morangos do país.
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| Celebrando as boas colheitas do ano, a Festa do Morango de Malta enche os olhos e a barriga / Foto: Larissa D'Almeida |
E o festival, que está na sua décima quarta edição, celebra a colheita farta de abril e anuncia a proximidade do verão, oferece uma experiência imersiva, delicada e divertida na cultura local, mas é preciso ter olhos dispostos a ver e permitir se encantar com as pequenas surpresas que o evento – que acontece em um único domingo do ano, em 2023 foi no dia 16 de abril –, guarda para viajantes atentos. Quem reparar bem, vai ver de tudo um pouco.
Logo no começo, além do movimento de pessoas que já ocupava a praça, olhar para o portal decorativo com o nome da festa já te arranca um sorriso. No meio das flores brancas que formam o nome do festival, inesperados morangos vermelhos completam o enfeite da entrada. Quando eu olhei de primeira, sem óculos, imaginei que fossem apenas flores, mas o malteses – festeiros que só eles! – adoram fugir do óbvio.
Me embrenhado pela multidão de moradores e turistas – que já começam a chegar à ilha nessa época do ano – consegui ir mais adiante e ver a rua que dava volta na igreja, onde exibiam morangos crescendo em vasinhos (não lembrava de ter visto a fruta ainda no "pé"), e uma imensa exposição de arranjos possíveis que se pode fazer com morangos, transformados até em buquê! Além disso, uma variedade de artes feita à mão, produtos locais, geleias, sorvetes, tortas, bolos, canoli, biscoitos e uma infinidade de doces preparados com morangos frescos, colhidos na vila, convidam os passantes ao desafio de decidir o que levar.
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| O morango in natura, no pé / Foto: Larissa D'Almeida |
A volta completa me levou por várias opções de comidas, desde a tradicional ftira – um pão típico de Malta – recheado de atum, por 3 euros, até hambúrguer com batata-frita, vendidos numa média de 5 a 6 euros. Bebidas, ah, tinha de tudo! Licores, vinhos, gins, batidos, milkshake, sangrias, e tudo feito de morango, oferecidos por cerca de 5 euros, em média. Como cheguei por volta das onze da manhã, os cheiros que subiam dos estandes já estavam abrindo o meu apetite, e me joguei sem medo na ftira completa que encontrei numa rua mais afastada do burburinho, porque também planejava poupar para gastar nos doces. Decidida a comida, fui saboreando e curtindo a decoração da igreja, com enormes morangos pendurados, que era ponto certo das selfies de todas as gerações. Observar as crianças e adultos com morangos pintados no rosto me fazia querer saber onde conseguir ganhar um também, mas nessa missão eu não tive sucesso.
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| Em Malta, como os malteses: Ftira completa / Foto: Larissa D'Almeida |
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| Tortinha de morango da Festa do Morango de Malta / Foto: Larissa D'Almeida |
Contudo, o êxito veio em seguida, com a prova que ganhei de um chef local que fazia um risoto de... adivinhe... morango! Ele preparava receitas diferentes, todas incluindo a fruta como ingrediente principal, e alternava entre inglês – para explicar tudo para os visitantes que pararam para ver – e maltês (quando falava com a equipe). A minha cara entregava que eu poderia avançar a qualquer momento naquele prato quentinho e fumegante que ele preparava. Quando o copinho da prova chegou nas nossas mãos, que surpresa! Morango com arroz e queijo era realmente uma novidade que causa estranhamento no começo, mas depois o paladar entende a brincadeira dos sabores e se diverte junto. Na sequência, o sushi de morango completa o experimento e também agrada ao meu apetite de avestruz.
E naquela confusão gostosa, consegui vencer uma fila e peguei um milkshake de morango, que debaixo do sol morno foi minha companhia até o pequeno palco central onde a banda local tocava músicas regionais, e uma apresentação de dançarinas com roupas tradicionais mostrando a herança cultural da vila, me animou tanto que dancei junto.
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| Milkshake de morango não tem erro / Foto: Larissa D'Almeida |
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| Dançarinos em trajes típicos malteses se apresentam na Festa do Morango / Foto: Larissa D'Almeida |
O fim da feira se aproximava, já por volta das 16h30, e de depois de passar pelo imenso mural com cartolinas desenhadas por crianças de todo o pais celebrando a tradição da festa, ver cachorrinhos fantasiados no colo dos donos, provar um queijinho maltês de um estande, perceber a vizinhança acompanhando tudo das sacadas, balões de morango que disputavam o enfeite das ruas com bandeirinhas, visitantes fazendo piqueniques improvisados na paisagem do vilarejo, gente dançando, comendo, rindo, com morangos de brinquedo pendurados nas mochilas e chapéus, percebi que Malta pega todo mundo de jeito, de alguma maneira.
Já em casa, abri a mochila para, enfim, provar os famosos morangos de Mgarr em estado puro, que comprei por 2,60 euros a caixa grande. E depois de provar um dos mais doces, vermelhos e suculentos morangos que já comi em toda a minha vida, e ficar parada, de pé, na cozinha, olhando para aquele pedaço de fruta na minha mão enquanto sentia o sabor na boca, entendi, finalmente, porque os malteses fazem festa para celebrar a fruta que nasce na sua terra.
🚩Larissa D'Almeida é jornalista, gestora e guia de turismo que ama comer e viajar. Sonha em rodar o mundo e contar histórias
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Muito interessante a publicação e informações.👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾
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