Não é raro. Para vivenciarmos uma boa história, basta colocarmos o pé pra fora de casa. E às vezes nem precisa. Se você viaja com frequência, entretanto, acaba aprimorando a sua percepção. Todos os sentidos ficam em alerta, como um radar. É algo involuntário.
E ficar assim, tão receptivo, é ótimo para quem gosta de colecionar boas memórias. E especialmente, bons personagens.
Já faz algum tempo que queremos descrever algumas dessas figuras, emblemáticas ou óbvias, que preenchem as nossas mentes primeiro com curiosidade, para depois nos deixar uma ou várias lições. Lições e um retrato do que perdemos quando escolhemos ignorar o que está à nossa volta.
Nesta semana que passou, eu vivenciei mais um desses momentos e ficou inevitável não compartilhá-lo com vocês. São momentos de um aprendizado instantâneo, um filme em um minuto, que passa. Tão rápido quanto veio. Como todos os momentos da vida, passageiros.
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Voltando de Recife para São Paulo, escolhi um voo para Congonhas e, por conseqüência, esse voo teria uma escala ou conexão. A princípio, seria uma conexão em Brasília, mas a cia aérea, dias antes, mudou tudo e eu escolhi um voo com escala no Galeão (RJ). Na noite anterior à viagem fui checar a reserva online e a companhia havia desmarcado meu assento - eu não estava mais na fileira 3. Achei tudo problemático, mas não tinha muito o que fazer. Só me restou escolher outro lugar para me acomodar. Já meio sem paciência, escolhi uma poltrona no fundo do avião e sem ninguém do lado, a 25A. Na hora do check-in no autoatendimento, recebo a seguinte mensagem: bilhete com problema, dirija-se ao balcão de atendimento. É muita chateação para um voo só, não é?
Fiz o check-in no balcão, confirmei que não tinha ninguém nas poltronas do lado, fui ao portão de embarque e decolamos rumo ao Rio de Janeiro. Viagem tranquila, lanchinho, uma palavra cruzada e 2:40 depois, pousamos no Galeão. Continuei na minha poltrona, ciente de que ninguém sentaria por perto. Ledo engano. Chegou uma família - mãe e dois filhos - dois foram acomodados nas poltronas ao meu lado e outro, na fileira seguinte.
O jovem rapazinho sentou na poltrona B e, com uma carinha super simpática, logo perguntou se era a primeira vez que eu voava de avião. Respondi negativamente e completei que já havia voado bastante, mas logo matei que ele estava passando por alguma novidade. Na verdade, seu primeiro voo havia acontecido não tinha nem 24h. A família de Catanduva - SP foi convidada para ir ao Rio de Janeiro participar de um programa de televisão. E eu, custando a acreditar na veracidade daquela história, só consegui crer nos olhos brilhantes do menino. Mais uma pergunta foi feita: Você já passou por alguma emergência voando? Graças a Deus, não. Respondi. Chegou a hora de decolar novamente e o menino disse que não gostava muito dessa parte. Eu a comparei com um passeio numa montanha russa. Ele sorriu.
Curiosa, perguntei o nome dele: Brad Pitt. E seu irmão, Tom Cruise. Enquanto isso, a mãe notando a minha cara incrédula, vai tirando da bolsa os RGs dos meninos e me mostrando. Era verdade! Eu estava voando com Brad Pitt e Tom Cruise ao meu lado. E, por causa dos seus nomes, através do orkut (lembram dele?) eles foram convidados para participar do tal programa de TV e, consequentemente, andar pela primeira vez de avião. Em seguida, a mãe me passa a câmera digital com todo o registro do breve passeio. Hotel 5 estrelas, praia de Copacabana, Copacabana Palace e encontro com Will Smith. Era muita experiência nova em tão pouco tempo para essa família.
Nessa hora, só pude pensar que se minha conexão fosse em Brasília ao invés do Rio, no máximo eu toparia com alguma político meia boca. Ou, até mesmo, se tivesse escolhido uma poltrona mais pra frente, outras pessoas sentariam ao meu lado. Talvez os meninos sentassem ao lado de alguém que não prestaria atenção à história deles. Acredito, sinceramente, que todas as alterações na minha passagem convergiram para que eu pudesse testemunhar essa história tão peculiar quanto fantástica.
Após as apresentações, Brad Pitt continuou tirando suas dúvidas com relação às viagens de avião (taí uma frase que eu nunca pensei em dizer). No alto da minha, não tão grande, experiência, pude falar dos tamanhos de avião, da duração de algumas viagens, dos tipos de comida que serviam a bordo. Também ensinei aquela dica manjada de olhar para a cara da aeromoça para ver se ela demonstra ou não medo. E, por fim, o ensinei a acender a luz de leitura e a usar a luz de chamada de comissários. Foram os 50 minutos mais rápidos da minha vida. Na verdade, nem senti passar. Já perto do pouso eu perguntei se eles haviam gostado de voar. Todos gostaram bastante, mas a mãe foi a menos empolgada na resposta.
Pousamos em Congonhas, e assim que o avião estacionou numa remota, demonstrando ainda pouca prática com os procedimentos de desembarque, a mãe e os meninos correram para a frente do avião. E, sem me despedir, perdi os meninos de vista. Minha viagem terminara ali, mas eles ainda tinham mais um voo até Ribeirão Preto. Para quem nunca havia voado de avião, fazer 4 trechos em menos de 24 horas é digno dos bons viajantes.
Infelizmente não deu para desejar uma boa sorte e dizer que foi um prazer conhecê-los. Então, só posso esperar que esses dois jovens sejam tão bem sucedidos na vida quanto os seus homônimos são no cinema. E que eles voem muito, sempre!
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:lol:
ResponderExcluirQue fofos! A mãe deles não foi boba não! Pena que não tem fotchEnha dos meninos ;-)
hahahaha Pena mesmo, Lena. Mas acho que eles aparecem na TV amanhã :) (programa do luciano huck)
ExcluirCaramba! Que história bacana! Quando comecei a ler pensei q tivesse viajado com os de verdade!!
ExcluirSempre conheço gente bacana viajando.
Legal a sua história!
Muito bom o seu blog, adicionei ao meu blogroll!!
Beijos
Carol
http://colaemmim.com/
Obrigada pela visita, Carol. :)
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